quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Equipe africana visita quilombolas em Águas Belas

por Gorete Linhares

recepção na chegada ao município
Ao longo do III Curso Internacional de Promoção da Saúde, desenvolvimento local e municípios saudáveis, os participantes têm a oportunidade de vivenciar algumas visitas de campo a fim de observar in loco a execução e os resultados de diversas atividades previstas no Plano de Município Saudável das cidades que integram a Rede Pernambucana de Municípios Saudáveis.
Sexta-feira, dia 21, uma equipe técnica do NUSP acompanhou o grupo de quinze africanos ao município de Águas Belas, aproximadamente a 303 km de Recife. A chuva foi a companhia da estrada. Em Águas Belas, um grupo de promotores locais aguardava o grupo já na entrada da cidade.
À sombra de uma grande árvore, protegidos do sol abrasador da região, os africanos ouviram as primeiras informações sobre a cidade, a programação do dia e as apresentações dos promotores de saúde e do Secretário de Saúde do Município, José Luciano. O dia prometia.  
Os promotores de saúde fizeram relatos de experiências desenvolvidas em várias comunidades a partir do curso de promotores de saúde que o NUSP realizou no município. O grupo foi levado a conhecer a construção de banheiros em residências, resultado da intervenção dos promotores junto às famílias de uma das comunidades de Águas Belas. Em seguida, a comitiva conheceu as instalações da Academia das Cidades, programa governamental desenvolvido em vários municípios pernambucanos. O Secretário de Esportes, que recepcionou o grupo, informou que o espaço é utilizado para realização de diversas atividades de programas sociais, tais como o Projovem, além de atividades religiosas de várias igrejas locais. Nos finais de semana, há uma programação voltada para crianças e adolescentes.  
Prefeito fala aos africanos na sede da Prefeitura
A sede da Prefeitura foi a terceira parada do dia. O prefeito, Genivaldo Menezes Delgado, recebeu o grupo em seu gabinete e falou sobre a história de Águas Belas, os desafios da governança de uma cidade que cresceu em território indígena, que tem baixos índices de desenvolvimento humano e graves problemas sociais com os quais convive uma população de cerca de 40 mil habitantes, 25 mil só no centro da cidade, e uma população rural composta também por remanescentes de quilombos. 

Banda de Pífanos de Sítio Quilombo
Subindo a Serra do Quilombo – A principal atividade do dia impôs ao grupo o desafio de vencer uma estrada de barro subindo uma serra de difícil acesso há cerca de 40 minutos do centro de Águas Belas. Chegar ao alto da Serra do Quilombo foi praticamente uma aventura. A hora do almoço já ia longe, a fome também. Mas, a recepção da comunidade Sítio Quilombo renovou o ânimo do grupo e o almoço foi apreciado acompanhado pela apresentação da Banda de Pífanos da comunidade que reúne cerca de 100 famílias (aproximadamente 445 pessoas) descendentes de africanos escravizados que fugiram para a Serra no período da escravidão. 
Dona Ester fala da história do seu povo aos visitantes
A comunidade tem uma capacidade de articulação espontânea alimentada pelo senso comunitário ali existente. E na simplicidade do seu povo, luta para manter vivo o Quilombo que, ao longo do tempo, foi sendo sufocado pela atividade latifundiária que avançou pela Serra, tirando suas terras e provocando impacto ambiental que põe em risco a permanência das pessoas naquela localidade. Os quilombolas, orientados e apoiados pelo seu senso comunitário, reverteram um processo de extinção de nascentes de água provocado pela atividade pecuária na área, construíram barragem, encanaram a água e aguardam a finalização do estudo antropológico que vai subsidiar o reconhecimento legal do território quilombola. Assim as pessoas simples de Sítio Quilombo ensinam aos seus descendentes a viver com dignidade. Principal aprendizado desta visita de campo.

Samba de Coco de Sítio Quilombo







O samba de coco fecha o encontro com alegria
A pisada rítmica do Samba de Coco, outra manifestação cultural da comunidade, saudou e finalizou o encontro animando o grupo em uma grande roda reunindo africanos de hoje e de ontem, pessoas que tem em comum o mesmo sangue, a mesma ancestralidade e a mesma matriz cultural.

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